sexta-feira, 7 de junho de 2019

SITUAÇÕES AVÉ














- Quando era miúdo, na Terra dos meus pais, o Agosto era quando os emigrantes exteriores lá da Terra voltavam à aldeia e o mesmo acontecia com os emigrantes interiores.
- Nessas semanas de Agosto era quando havia a festa da aldeia para otimizar as comparticipações monetárias e para a festa ficar cheia de gente.



- Mas que é isso de emigrantes exteriores e interiores?
- Nunca ouvi falar disso!


- Os exteriores são aqueles que foram para outros países e os interiores são os que foram viver para outras localidades do nosso país.
- São todos emigrantes relativamente à aldeia!




- Então e o que tinham de especial essas festas?
- Dançava-se muito?



- Essa festa era e ainda é composta de duas partes: a religiosa e a secular.
- Na secular um ou vários grupos musicais tocam e quem quer dança há várias barracas tipo feira e vendem-se coisas como bugigangas, comidas rápidas, compram-se rifas para ver se sai alguma coisa e ainda há leilão de coisas que têm algum valor e foram oferecidas pela população.




- Nessas festas o que é  a parte religiosa?



- A parte religiosa consiste na missa no dia de festa que é seguida pela procissão à volta da aldeia, na qual quase todos participam e onde mostram as suas melhores roupas, principalmente as senhoras.
- Antes dessa procissão existe outra no dia anterior que percorre um trajeto de vários quilómetros e que leva o andor principal com a Nossa Senhora, da Igreja da aldeia para uma capela num terreno grande e relvado onde fica para o dia de festa, de modo a abençoar as festividades.
- Estas procissões são feitas em passo muito lento para ser possível que os mais velhos e aleijados consigam acompanha-la, além disso um coro de mulheres e adolescentes vão vocalizando umas canções religiosas em que é dado um grande ênfase ao termo religioso "Avé Avé"



- Avé avé Mariiiaaaa, é realmente o termo que mais usam, fazem-no como os indianos usam os seus mantras para os ajudarem ou purificarem o seu esforço diário numa determinada tarefa sagrada.


- Pois, eu por isso mesmo quando me confronto com um ritmo que poderia ser mais rápido mas é lento chamo-lhe um ritmo avé ou uma situação avé.
- Por exemplo: se formos a passar de carro numa estrada de aldeia ou vila e apanhar-mos uma procissão dessas, estamos tramados se tivermos pressa, pois temos de ir aquele ritmo até a procissão sair da estrada. Há pessoas a conduzir que também parecem procissões, são as chamadas conduções avé, em que não podemos ultrapassa-los e temos de manter a velocidade a que eles vão.
- Quando damos aqueles beijos repetidos mas muito lentos durante um ato de namoro, também lhes chamo: beijos avé.



- Eeeeéééé.
- Que giro!
- Pois é faz todo o sentido: avé avé... avé Mariiiiaaaaaaa.
- Estou-me a lembrar de já ter passado por esse tipo de situações.

Bloggersapão

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